Boa noite Exmos. Srs. Drs.,
venho por este meio recorrer novamente a vós na esperança de palavras mais firmes e talvez, mais tranquilizadoras relativamente ao meu assunto. Já vos havia deixado esta mesma questão há umas semanas mas não obtive qualquer resposta, por isso tento novamente a minha sorte!
O meu nome é Cláudia, tenho 31 anos, sou profissional de saúde e desde os 12 anos que sofro de severos ataques de pânico. Os meus ataques de pânico podem surgir repentinamente, como por exemplo, fazerem-me acordar a meio da noite, como podem igualmente ser despoletados por uma situação de stress, que muitas vezes nem necessita de ser extremo. Durante os ataques de pânico, fico com sudorese profusa; bradicardia acentuada na ordem dos 3-4 ciclos por minuto; parestesias nas extremidades que posteriormente resultam em distonias extremas em que mais pareço uma contorcionista, inclusive nos músculos da face; perda de controle de ambos os esfincteres; náuseas; diarreia e prostração severa... posto isto, estou medicada com paroxetina desde os 17 anos...medicação da qual nunca me consegui livrar nem, inclusivamente, substituir por outra menos nociva.
Actualmente estou grávida de 11semanas e 3dias (gravidez não planeada, mas agora desejada) e faço meio comprimido de paroxetina 20mg, portanto 10mg, em dias alternados, e tomo-os sempre após uma boa refeição de forma a que este seja ainda menos absorvido pelo organismo. A verdade é que sei que pertence à classe D segundo a F.D.A., que é teratogénico, essencialmente a nível cardíaco, fora todos os problemas para além destes, que podem provocar no feto em diversos sistemas antes e após o nascimento,etc.
Ter este conhecimento é angustiante e apesar de ter opiniões de 4 clínicos diferentes, nenhum está de acordo com o outro e apenas a minha médica de família está descontraída com a situação, pois tanto a minha médica de psiquiatria, como a minha obstetra e a médica que conheci na consulta de DPN para a qual fui encaminhada, não concordam propriamente com o facto de eu tomar paroxetina, embora acabem por se "render" ao factor risco-benefício...o que a mim não me suscita confiança, não me conforta, não me tranquiliza, pelo contrário...
A questão é que, já tentei o desmame inúmeras vezes ao longo dos últimos oito anos, já tentei, igualmente, a substituição do fármaco e sempre sem sucesso, pois assim que a dose reduz demasiado, os sintomas e os ataques tornam-se mais frequentes, situação que infelizmente estou a experienciar novamente, pois a pressão de não poder tomar o fármaco, mas de também não poder ter um ataque de pânico deste calibre (situação que não controlo), o que pode pôr em risco a própria sobrevivência do feto, é algo que está a afectar-me a cada minuto do dia... Não consigo pensar noutra coisa e tudo o que queria era pelo menos saber de uma gravidez que tivesse sido bem sucedida com paroxetina e sem qualquer efeito nocivo para o bebé...
Antes de saber que estava grávida fazia meio comprimido (10mg) por dia e sabia que se necessitasse podia sempre aumentar a dose, mas quando soube que estava grávida, às 6 semanas, reduzi, sob supervisão da médica de psiquiatria, os mesmos 10mg mas em dias alternados. No entanto, nunca estive com uma dose tão reduzida e além disso, a pressão de saber que não tenho ali aquela muleta do fármaco para poder tomar pelo menos um comprimido inteiro de vez em quando, e que ao mesmo tempo e sem depender do meu controle, também não posso ter um ataque de pânico, está a deixar-me literalmente desesperada. Estou à espera de iniciar (novamente) psicoterapia através do centro de saúde, mas a lista de espera é vasta e já se passaram mais de um mês em que, dia-a-dia a minha situação se agrava mais e, temo, tanto por mim, como especialmente pelo Ser que vem a caminho e que, se realmente sente o que a mãe sente, já está tão precocemente em agonia e sofrimento. Tudo o que eu mais queria era livrar-me deste problema que fez de mim, a partir dos 12 anos uma criança diferente, e que faz agora, aos 31 anos uma grávida também diferente... Sinto que o bebé dentro de mim não está seguro e, pensar que ainda faltam 6 meses e meio até ele vir ao mundo e estar finalmente em segurança, longe do químico do qual a mãe é dependente...é simplesmente desesperante...!
Aguardo ansiosamente com esperança uma resposta/opinião vossa...
Um muito obrigada antecipadamente,
Cláudia C.

Olá Cláudia,
Não há motivo para tanta angústia e preocupação. Infelizmente o quadro que refere é frequente – e digo infelizmente porque é sintomático do tipo de vida que hoje se leva e de como as pessoas se sentem inseguras no dia a dia - . Perante isto, era impensável impedir as mulheres em idade fértil de cumprirem o seu desejo de viverem a maternidade por apresentarem este tipo de distúrbios e por terem de ser medicadas. Se fossem impedidas de engravidar, causava-se-lhes ainda mais motivos de se sentirem infelizes ou ansiosas, além de se tratar de uma atitude prepotente e não ética...Também não seria viável, uma vez que se lhes permite a gravidez, fazê-lo contra a moeda de troca de suspenderem toda a medicação. Correr-se-ía o risco de ter grávidas ansiosas, angustiadas, deprimidas, à mercê das suas crises de pânico...Não duvidando que estariam felizes por cumprir o seu projecto de maternidade, esses pensamentos agradáveis e reconfortantes não são, no entanto, suficientes para resolver de forma definitiva os seus problemas. Se assim fosse, racionalmente seriam então capazes de lidar com as suas crises e afinal não precisariam de medicação para nada – o que não é o caso.
Esta introdução toda para que a Cláudia perceba que , embora esse ou outro fármaco sejam classificados como D, muitas vezes temos que os utilizar sob o argumento de que, como diz, os benefícios ultrapassam os riscos, e acaba por ser a nossa prática clínica, pela enorme frequência com que temos que os utilizar, que nos diz que os riscos são mínimos. Não seria ético fazer estudos com humanos, mas a verdade é que as circunstâncias nos levam a “arriscar” repetidamente de tal forma que acabamos por ir concluindo que afinal o fármaco é mais seguro do que estava descrito.
Assim, o que tenho a dizer-lhe é que se for necessário volta a utilizar a paroxetina na dose que fazia antes; se conseguir manter-se confortável com a dose que faz agora, óptimo, mas saiba que tem “plafond” para aumentar a dose. Tenho tido já muitas grávidas a fazer a paroxetina sem danos para os bebés até à data e, no caso de mesmo assim ficar com alguma reserva, pode sempre pedir para fazer um ecocardiograma fetal. Mais: mantenho a medicação mesmo após o parto sem impedir a amamentação, pois se já passava uma fracção do fármaco par ao bebé, continuará a passar e ele fará um “desmame” natural do fármaco quando começar a diminuir o número de mamadas e iniciar a diversificação alimentar (pois terá assim uma diminuição natural e gradual da dose).
Espero ter respondido às suas dúvidas...e desejo-lhe as maiores felicidades!
Mais perguntas
Boa tarde, peço desde já desculpa se a questão é idiota mas quando se tem duvidas há que ter coragem de perguntar Sei que existem mulheres cujo muco cervical não ajuda à concepção de um bebé pois interfere com a qualidade do esperma.
A minha duvida é esta: uma mulher pode usar um lubrificante à base de água quando está a tentar engravidar ou vai prejudicar a concepção, " atrasando ou mesmo eliminando" os espermatozóides?
Já ouvi uma ginecologista afirmar que a saliva é o melhor lubrificante natural que um casal pode obter mas...e quando está a tentar engravidar? Há contra-indicações? Interfere ou não com o esperma? Obrigada!
Olá Doutora!
Fui mãe há 10 meses e desde sempre amamentei a minha filha. Após os 21 dias do parto comecei a tomar Cerazette e durante muito tempo não menstruei, mas agora menstruo demais! Já para não falar no desconforto que sinto,pois nunca tinha tido este tipo de dores.
Outra coisa que me preocupa é o meu peso. Antes da gravidez sempre pesei 44/45 kg's e agora não consigo passar dos 41/42 kg's, apesar de fazer uma boa alimentação. Devo ficar preocupada?
Obrigada!
Olá Doutora, estou grávida de 33 semanas e fui fazer uma visita guiada à maternidade do hospital de Aveiro. Quando estavam a falar de anestesias eu disse que tinha uma tatuagem nas costas e imediatamente me disseram que não podia levar epidural. É verdade? Será que não posso ver a minha filha nascer por causa da tatuagem?
E já agora, toda a minha família do lado materno nunca tiveram filhos por parto normal devido a não terem dilatação, será que eu vou ser igual, pode ser um problema hereditário?
Muito obrigada pela resposta!
Olá estou grávida com 33 semanas e já tenho que usar discos pois já estou a deitar colostro! Será normal?Muito obrigada.
Olá gostaria de tirar uma dúvida que está martelando em minha cabeça: o meu primeiro filho tive-o por parto induzido, e agora estou grávida novamente.
Será que meu próximo parto vai ter que ser induzido também ? Porém não sei ao acerto o que significa parto induzido. Pode por favor explicar-me o que isso significa?
Muito obrigada e uma boa tarde.
Olá Doutora, eu retirei um inplanom já faz quatro meses, quanto tempo demora para eu poder engravidar? Obrigada.